3 de fevereiro de 2011

Em Presidente Olegário, um cidadezinha mineira, localizada a mais ou menos 500Km de sua capital e situada à 450Km de Brasília, reside há aproximadamente 33 anos, um senhor simpático chamado Silvalino Veloso, mais conhecido como Pio e chamado por amigos e alguns irmãos de "Gouvea". "Gouvea"? Também não sei o porque, apelido desde criança que ninguém soube me explicar.
Vô Pio (sim, ele é meu avô), é um senhor de 81 anos, que foram completados na última terça-feira, 1° de fevereiro, dia ao qual fomos fazer uma visita.
Tio "Tiófo" e Tia "Terezinha", irmãos do Vô, eu, Tia Lady (filha) e Tio Paulo Caixeta, marido da Tia Terezinha, chegamos por volta das três horas da tarde, e lá estava ele sentado no banquinho da lagoa em frente sua casa, nos aguardando.
Ele foi abrindo o portão e logo fui sentindo aquela sensação de nostalgia.
Tudo parecia igual, mas com proporções diferentes.
O terreno grande, com todos os quatro cantos contendo alguma bagunça, e bem no meio aquela casinha simples de varanda simpática, com uma poltrona aconchegante lá fora.
Ainda na frente, os banquinhos de tampa vermelha que pertenciam a Vó dadá (sua ex mulher, que infelizmente nos deixou há aproximadamente 17 anos), com um deles forrado com algum tipo de retalho estampado, dois tamboretes comuns e um outro banquinho de dois lugares, feito daquela madeira clara, que parece um prensado, suportado pelas armações em forma de bandeira de festa Junina. O chão só no cimento, mas bem liso, naquela cor amarelada talvez pelas vezes enceirado e com algumas rachaduras salientes.
No canto direito estava ali a bagunçada oficina, com todas suas ferra-
mentas sujas de graxa.
No outro canto a garagem do Jipe...
Ah o Jipe!
Falarei mais tarde sobre ele.
Lá na frente do lado esquerdo da entrada, um carro, com a placa de Ribeirão Preto. Creio eu, que ele está parado ali desde o dia em que o vô comprou o terreno...
placa de duas letras, todo enfer-
rujado...
... e por dentro uma sujeira inenar-
rável.

No outro canto, o direito, um muro caído.
Naqueles dias de muita chuva, o vô conta que acordou com a "água na bunda". Tudo inundado! Não só a força da água fizera aquilo, mas os vizinhos foram obrigados a quebrar o muro para que a água baixasse, ela havia acumulado na casa deles e precisava escoar, então já que o terreno do Vô é grande, foi o melhor a se fazer. Meu tio, o Caio, que mora com ele, vive reclamando: "Pai, você é bobo de mais, devia cobrar dos vizinhos", mas o Pio na sua simplicidade, nem liga pra isso, e responde: "Deixa lá do jeito que tá, não tá te atrapalhando tá? Eles fizeram o que tinham que fazer".

Dez anos sem aparecer por lá. O engraçado é que as lembranças que eu tinha do cantinho dele, eram diferentes, mas nada ali foi mudado, quem cresceu fui eu, logo tudo que na minha memória estava, era maior do que os meus olhos enxergavam, talvez eu tenha crescido de mais.

Além disso, minha percepção mudara. Os detalhes contidos em todos os cantos eram desconhecidos, sem dúvida com o passar dos anos as experiências que vivi, contribuíram para uma visão mais sensível.

O Pio é uma pessoa muito simples,
lá é tudo muito humilde e não há nada lá que ele não use,
tirando as sucatas paradas pelos cantos, mas alguma coisa ele ainda vai fazer com aquilo.
A paixão da vida dele é a mecânica, creio eu que desde que nasceu.
Lá no canto da oficina é uma bagunça só, mas sabe aquela bagunça organizada?
As chaves todas enfileiradas, tudo cheio de graxa, mas tudo está do melhor jeito para ele.
Tem também os 700 pés de café plantados atrás da casinha, por lá eu não fui, tenho medo, porque ouvi dizer que tem aquelas cisternas, eu tive receio delas, vai que eu caio né? Além disso vai que tem cobra?! Eu caio durinha pra trás.
Meu avô é um cara muito fuçado, adora uma gambiarra, e ama consertar as coisas.
E como havia comen-
tado, ele tem um Jipe.
O carro é show, 4x4, freio a disco, "motorzão nos trinques". Poderia ser qualquer carro que se compra por aí, mas não. Esse ficou pronto só depois de 20 anos. Ele mesmo construiu, peça por peça.
Existe um ciúme desse Jipe, que não fazes ideia. Já ofereceram uma grana alta nele, mas ele não vende de jeito nenhum. Até pra dar uma voltinha tem que ficar pedindo frequentemente até o sim sair.
"Vô tira o Jipe aí para eu poder fazer umas fotos dele", eu pedia, e ele:"ah fia tá sem gasolina, mas sábado a gente sai nele"; é...nesse próximo sábado, ele vai matar lá no sítio um "capado", como dizem por aqui, iremos no Jipe.
Mas de tanta insistência não só da minha parte, ele tirou o Jipe, e cada um teve o prazer de guiá-lo... Menos eu. É uma vergonha, mas eu não tenho habilitação.
MAS quando a gente fica com zelo de mais em alguma coisa, o que acontece? Merda. Tinha prego no terreno e aquele pneu Zero Km, de 20 anos atrás, furou. Ele não disse nada, mas pela cara dele, ficou meio de "calundum", como minha mãe costuma dizer quando eu to de bico. Mas no final de tudo ele disse que logo levaria no borracheiro lá do lado, e resolveria o problema, e que aproveitaria para lavá-lo pro próximo sábado.
O Sr. Silvalino Veloso ha mais ou menos um ano, se complicou com algumas veias do coração, e hoje depende de alguns remédio para viver.
É por isso que o tio Caio, que eu citei anteriormente, está morando com ele.
O "Véio" é teimoso viu?!
Foi proibido de cheirar aquele negócio lá, o... Rapé, e continua usando... "Não fia, eles falam pro vô parar de cheirar o pó, mas se eu escutar eles não consigo fazer nada, o pózinho me dá energia, vou te falar que isso daqui (tirando o potinho de rapé do bolso) é a melhor coisa que tem pra dor de cabeça, eu não tenho dor de cabeça de jeito nenhum", dizia ele apontando o indicador como se estivesse dando uma lição pra mim.
Aquele potinho parece uma embalagem de Vick, disseram que minha mãe adorava pegar aquilo pra ficar espirrando, então, a linda e adorável Michelle foi logo pedindo pra experimentar.
PUTA QUE PARIU! Que negócio horrível!!! Eu ficava com aquela vontade louca de espirrar, mas o espirro nunca chegava, de repente meu nariz foi escorrendo... Aquilo queimava pra diabo!!! O negócio foi vindo pra garganta... arg!
Hoje eu aconselho: Não cheire o pozinho do Vovô.
Me esqueci de falar também do esquisito. Um cão SRD (Sem raça definida)
muito simpático, que fica grudado no pé do Vô. Ele tem um ciúme dele que se chegar perto mostra os dentinhos.O Esquisito é bem esquisito. Ele tem algum problema no olho. Sabe quando o olho pula? Então, o olho dele fica daquele jeito pra sempre!
Enfim, foi muito bom poder estar com ele nesse dia. Minha mãe falava tanto do meu avô, e infelizmente não convivi com ele.
Claro, todo aniversário ele liga. Quando eu morava aqui perto, em Patrocínio, sempre o via, mas nunca algo tão intenso assim de saber sobre a vida dele, o que ele faz, o que gosta, de "proziá" de verdade.
Gosto muito de pessoas mais velhas, de escutar os que eles tem a dizer, seus causos, suas experiências...
Me sinto lendo um livro, fico viajando, como se eu tivesse dentro da história.
Numa dessas eu fico pensando, será que quanto mais envelhecemos, mais detalhistas a gente fica?
Detalhista digo porque, para que eu me sinta lendo um livro é que porque detalhes não faltam nas histórias deles...

Well, well...

Essé é o meu Avô, o Vô Pio, Registrado no dia 1° de fevereiro do ano de 1930!
Abaixo seguem as fotos das pessoas presentes do dia do seu aniversário no ano de 2011:
Tio "Teófo"
Tia "Terezinha"
Tio Paulo Caixeta, como a Dadá dizia: "Xexeta"
Tia Lady
Tio Caio











E Eu!